terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Uma nova identidade para a Europa.

Todos sentimos que a identidade europeia tem estado muito limitada ao mundo ocidental, ocidentalizada, muito devido ao desfecho da Segunda Guerra Mundial com a vitória tripartida entre Americanos credores, aliados enfraquecidos e Soviéticos ambiciosos.
Este paradigma prolongou-se e penetrou na génese europeia durante a longa Guerra Fria que se seguiu, encruzilhando a Europa entre o americanismo e o sovietismo, com maior confiança e intimidade com o primeiro que no segundo.

Na segunda metade do séc. XX esta divisão do Mundo predominou distinguindo os europeus como atores secundários donos de um palco de jogos políticos inter-potências dos quais não participavam.
Por cautela, por necessidade e por interesse e também por incapacidade institucional, a Europa, apesar de exemplo mundial de modelos sociais e democráticos, nunca pôde ser uma autoridade política.

Atualmente o mundo não se encontra mais subordinado aos EUA e os conflitos entre potências diversificaram-se em tipologia e dispersaram-se pelo globo. A Europa independente de hoje encontra-se liberta da sufocante pressão bélica e política, contudo, permanece aninhada no conforto conservador da antiga Ordem Internacional.

O mundo não parou só porque a zona euro está em crise económica.
Há belicismos ameaçadores, e crises mundiais que tectonicamente alteram todos os dias o planeta internacional e que a todos diz respeito.
A Europa não pode mais estar virada para dentro, brincar às submissões e às imposições. A Alemanha é apenas o que a restante UE permitir que seja e não há alterações de tratados ou acordos pressionados que mudem a seguinte realidade: A força da Europa reside na sua identidade, memória e diversidade. Tudo o resto são cópia&inveja de mercadores e medíocres.

Daí que o velho continente continuar a ignorar o mundo, externamente adormecido, equivale à sua contínua demissão enquanto papel (vocação) condutor do mundo, e o seu oblívio não apraz qualquer progresso positivo nem para a Europa nem para a sociedade planetária.

São cada vez mais os que postulam que a Europa deva sair da sombra de uns EUA tremidos e incapazes e assumir por fim a sua vocação histórica, com uma voz determinante e construtiva num diálogo participativo próprio com todo o globo e em particular a Rússia e as novas potências emergentes como o Brasil ou os gigantes asiáticos...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

2012: Episódio I - O fim da 'Pax Europeana'.

No contexto atual em que se exige urgentemente mais integração, mais união e mais diligência, o Tratado de Lisboa é já um tratado obsoleto, uma passagem intermédia entre o que foi a União e o que tem que ser, aguardando inevitaveis reformas (impostas pela conjuntura de poderes) que consagrarão o domínio de uma Europa sobre outra...

Atualmente as tensões institucionais estão inflamadas com pressões da Comissão Europeia para com o Estados Alemão e Francês para se concertar a implementação das Eurobonds e um aprofundamento da intervenção do Banco Central Europeu, e a resposta no sentido de reformar o controlo da União retirando poder às economias mais débeis para as entregar às mais fortes...

Mais força para a União Europeia não é sinónimo de prosperidade. É crescente o sentimento popular e consequente ação política de contestação e revolta para com o acentuar das desigualdades entre grupos de Estados Membros. Se antes da crise do crédito as diferenças sociais e económicas passavam naturalmente por diferenças culturais, hoje essas diferenças são sentidas com frustração, sobretudo com a recente crise da dívida soberana dos países do sul da Europa. É destacada a linha que separa países mais nórdicos como a Alemanha ou a Escandinávia que apresentam boas condições sociais, níveis de emprego e de competitividade invejados, dos novos “periféricos” ainda em plena escalada de agravamento social, contagiando Estados fundadores e fulcrais na união como é a Itália.

A volatilidade dos mercados ameaça a estabilidade da moeda única e estas novas diferenças ameaçam a integridade da própria União. Aumenta a revolta pelas responsabilidades das crises da dívida e das austeridades, e a pressão em torno do aprofundamento integracionista como solução para problemas económicos. Nunca o medo da desintegração esteve tão presente no pensamento dos europeus, justificando a cautela acrescida dos próprios órgãos Comunitários.

A discussão política interna dos estados foca cada vez mais agressivamente estas diferenças pressionando os respetivos líderes a adotar posições em sintonia. Assistimos ao crescer de uma assimetria reconhecida e rejeitada entre povos em crise exigindo solidariedade e respeito, e povos que não estando em crise, detêm cada vez mais a responsabilidade e também o autoritarismo de decidir o rumo dos acontecimentos.

Os receios sobre o futuro da Europa não são infundados pois o que sair da eminente revisão do Tratado de Lisboa corre o risco de transformar poderosos em ditadores e frustrados em rebeldes, consumando a destruição da Pax Europeia...

sábado, 26 de novembro de 2011

O último tratado Europeu

Até à vigência do Tratado de Lisboa a Comunidade representava e representava-se por interesses comuns, todos eles obtidos e admitidos após processos de negociação, pressão e reivindicação entre estados membros, e que depois se consubstanciava em documentos protocolares.
A ambição política dos lí
deres europeus visava uma união política capaz de criar força projetada pelos órgãos comunitários que ante
s do Tratado de Lisboa não era sequer juridicamente possível.

Nos últimos anos de vida da União Europeia, assistiu-se ao aproximar de países e culturas que o estabelecimento do Mercado Único proporcionou. Cimentou relações entre estados vizinhos, criou oportunidade de negócio e aglomerou interesses particular

A chegada da moeda única foi um ansiado passo de leão para alinhar políticas económicas que permitissem o ganho de influência por parte de uma “União Europeia” sobre o dólar americano. A transformação que o Euro implicava pressionou e evidenciou uma divisão entre os estados membros que mais se encontravam dispostos a aprofundar a sua integração europeia e os mais reticentes. A UE continuou a evoluir na sua participação nas vidas dos cidadãos dos diversos estados e os alargamentos a Leste finalmente se sucederam. A União estava maior que nunca, mais embrenhada e participativa na vida política de cada membro, mas também mais dispersa, com problemas novos e maior número de contextos diferentes. Os consensos verificavam-se ainda mais complexos de assegurar – Era necessário aprofundar a contratualização europeia e não bastavam simples adendas, estava chegado o tempo de uma autêntica Constituição Europeia.
es em coletivos.

O Tratado de Lisboa assinado a 13 de Dezembro de 2007 pelos Chefes de Estado e Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros da UE veio para felicidade das elites europeístas resolver uma controvérsia que começara a ameaçar a imagem e a integridade da união. A incompatibilidade constitucional de alguns membros em abraçar uma constituição europeia, a reticência de algumas oposições políticas e civis e o chumbo de referendos convidava a criação de uma alternativa que não dependesse do consenso popular.
Não surgiu a Constituição que os europeístas mais ambiciosos desenharam mas no seu lugar foi assinado um tratado que formaliza os pressupostos dessa mesma constituição, reforçando os poderes e a soberania dos órgãos Comunitários e instituindo juridicamente uma cidadania europeia sujeita.

Quatro anos depois da assinatura deste tratado que permitiu que os novos tratados pudessem ser fabricados com muito mais agilidade e implementados sem resistência, na Europa magica-se novos instrumentos de controlo e gestão.
Infelizmente não houve referendo, e agora não mais os haverão, nem tão pouco ratificações uníssonas. Será no jogo político das elites e dos grandes interesses que dominam o Velho Continente que as grandes decisões institucionais serão tomadas.

Na falta da verdadeira política que aproxime cidadãos europeus de decisores, caberá ao povo pelos instrumentos democráticos (e infelizmente não só), exprimir aclamação ou rejeição...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

'Cultura' e 'Desenvolvimento' (II de II)

(II de II) O contributo antropológico.

Sem arrogâncias estéticas ou éticas, a antropologia é uma ciência integrante que constrói dados sobre tábuas rasas (sem preconceitos ou especulações). Para ela, os dados estatísticos de outras áreas são referências, a matéria tratada está no terreno, no observável e nos registos actuais e arqueológicos.
Tal como a antropologia não ousa nem pretende substituir-se a outras ciências sociais no uso dos seus dados para desenvolver teorias representativas do real social, devem também as ciências sociológicas, económicas, psicológicas ou politológicas conter-se no empreender de buscas holísticas para a génese/essência do Homem enquanto ser humano, ou no mínimo reconhecer que se o estiverem a fazer, estarão assumindo o papel de antropólogos, devendo agir como tal se devidamente formados.

Se desenvolvimento preconizará uma 'evolução' com ideais pré-concebidos, a cultura por seu lado afirma um status quo, cujo seu estudo e avaliação (sobretudo através da etnologia) não pode estar submetido a uma intenção exterior sob pena de perder a sua objectividade.

Dois investigadores procurando paralelos entre culturas e seus graus gerais de desenvolvimento não chegarão às mesmas conclusões. A matéria observável pode ser exactamente a mesma, os métodos e as doutrinas aplicadas as mesmas, mas a ambiguidade existirá sempre pela mão da subjectividade associada aos critérios que determinam o “desenvolvimento”. Existem por exemplo indicadores modernos e úteis como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que ponderam vários dados estatísticos de um país, usado assim como medida comparativa entre graus de desenvolvimento de países, contudo, os estudos que reúnem dados sobre a felicidade relativa desses países mostram-se ineficazes na descoberta de relacionamento directo entre estatísticas de “desenvolvimento” e a satisfação/felicidade dos indivíduos ou grupos que integram essas estatísticas.

Para finalidades várias desde a promoção com fins comerciais, da descoberta de soluções políticas ou do simples enriquecimento do repertório etnológico, o conhecimento sobre a cultura de uma sociedade é cada vez mais um activo económico e uma mais-valia para várias entidades e instituições que ensejam aproveitar esse conhecimento para explorar novas potencialidades.

Descobrir a complexidade da cultura de uma comunidade, de um povo ou de uma região são armas fortes para ganhar competitividade em áreas tão importantes como a económica - através do turismo, ou a do conhecimento - através da educação, informação e qualificação. Além de que, este serviço antropológico é um contributo basilar, senão o mais importante, para a questão mais transversal ao ser humano: “quem somos, para onde vamos”.

Sendo progressivamente procurado por políticos, economistas, sociólogos, psicólogos, vários profissionais de especialidade e demais entidades interessadas, é através do rigor da antropologia que o conhecimento sobre cultura e desenvolvimento é melhor atingível e é precisamente pelas suas qualidades de isenção que esta ciência surge como a mais apta a estudar o papel da cultura tal como ele é no desenvolvimento dos povos. Os seus resultados por sua vez estarão à mercê de ser apreciados por toda a comunidade científica, destacando-se a sociologia e a economia para que estas, através deles, desenvolvam novos conhecimentos.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

'Cultura' e 'Desenvolvimento' (I de II)

(I de II) O obstáculo etnocêntrico.

Em última análise, o conceito de cultura associado ao ser humano compreende toda a actividade que lhe seja inerente e que não seja biologicamente justificada.

Por sua vez, qualquer sistema de crenças, valores, ideias e simbolismos que componham uma estrutura cultural humana acompanham participativamente todo o desenvolvimento, seja de índole individual ou colectivo.

Devido ao seu interesse, a relação entre cultura e o desenvolvimento é assunto amplamente discutido entre estudiosos das várias ciências sociais. A doutrina antropológica no entanto, rejeita muitas das abordagens feitas ao tema sobretudo quando estas surgem numa sedutora perspectiva desenvolvimentista (e evolucionista), atribuindo diferentes valores a diferentes culturas e classificando-as consoante determinados
indicadores ocidentais de progresso económico e/ou social.

Aliás, o exercício cada vez mais regular de associar culturas de certos povos a estados evolutivos, de forma subjectiva comparada e/ou hierarquizada, resulta precisamente na perca de culturalidade do ser humano.


Para melhor facilitar o entendimento da lógica por detrás desta preposição, atente-se o seguinte exemplo figurado:
Imaginando uma sociedade composta por diferentes grupos de indivíduos agregados, cada um deles com as suas especificidades culturais.
Dentro desta sociedade existem duas percepções culturais possíveis:
Na primeira considera-se existir um grupo cultural superior - superioridade em poder ou em número de indivíduos - representando um termo de comparação e uma série de objectivos a atingir pelos restantes grupos.
Na segunda percepção respeita-se a não existência de culturas dominantes e que cada grupo possui igual importância cultural, independentemente do grau de poder ou de influência dentro da sociedade.

Qual é a percepção que favorece a diversidade cultural e qual é a percepção que segrega directa e indirectamente aspectos culturais vários…?

Análoga ao mundo actual, esta ilustração de uma só mesma sociedade, demonstra bem a influência que a variação de duas percepções pode determinar na cultura da sociedade.

Sempre que se estuda um conjunto de aspectos culturais de uma comunidade, etnia, nação..., com estabelecimento de um nexo de casualidade determinante no nível de vida, estamos a valorizar uma cultura em detrimento de outra, involuntariamente advogando uma o estigma de predestinação de diferentes culturas para níveis de vida antagónicos.

E, se para a sociologia ou comum discussão intelectual é admitido partir de pressupostos sociais para validar julgamentos de culturas, para a antropologia o estudo do Homem é muito mais objectivo e real, suportado por dados factuais e impessoais sem nunca pressupor o inexistente e sem correr o risco de invalidar a fiabilidade da informação.

...continua

terça-feira, 31 de maio de 2011

Este Domingo, Vote! "PELA NOSSA TERRA" - Artigo de opinião

Há quem diga que são as eleições mais importantes da DEMOCRACIA pós-25 de Abril. Mas esta campanha que agora termina foi a mais desvirtuosa de que há memória.

Os partidos do costume gastaram 90% do seu tempo a falar (mal) de outros em vez de falar de si próprio.

Qual é a ALTERNATIVA? A Direita exige as portagens, a Esquerda quer gastar fortunas no TGV e em betão. Eu não quero votar nisso!

Onde está a VISÃO e a INSPIRAÇÃO? Qual dos partidos se preocupa em dar aos portugueses o SONHO e a ESPERANÇA de TRANSFORMAÇÕES no nosso país capazes de assegurar um FUTURO de PROSPERIDADE aos nossos FILHOS?

Não se viu nada disso nesta campanha nem se vê nada disso nos nossos líderes. É tudo a apregoar e a governar como se nada mais fossem que funcionários.

Pois isso não nos chega! Precisamos e exigimos MELHOR!

Queremos GUERREIROS FORTES que nos defendam quando outros interesses nos queiram assaltar.

Queremos DESCOBRIDORES VALENTES que nos puxem para NOVOS CAMINHOS quando as oportunidades surgem.

Queremos políticos higiénicos que tragam RESULTADOS CONCRETOS sem nunca perder a noção do EXEMPLO que prestam à NAÇÃO.

Queremos homens e mulheres de ESPÍRITO LUSITANO, queremos HERÓIS que nos tragam ORGULHO e glória.

Se não fazemos escolhas para isso a democracia serve para quê? É um querer ambicioso mas nada se faz sem a VONTADE. E esse é o caminho a que nós todos nos devemos propor.

Por isso neste Domingo irei exercer o meu direito de cidadão livre e escolher. Escolher diferente. Escolher melhor!


Paulo Rosário Dias, candidato cabeça-de-lista do Partido da Terra pelo Algarve, à eleição dos deputados à Assembleia da República 2011

Região-Sul

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Discriminação laboral das mulheres no séc. XXI (II de II)

(II de II) A questão das quotas.

Segundo a abordagem feminista liberal o problema da discriminação do género nas organizações era de poder e não de género.
A situação desprivilegiada das mulheres resultava da falta de poder suficiente nas organizações. É precisamente desta teoria que surge a solução para a instituição de quotas mínimas de mulheres como meio de incrementar o poder feminino e acelerar o fim da situação de desprivilégio.

A perspectiva radical veio contestar essa visão com o argumento de que as organizações modernas enfermavam de valores e padrões patriarcais, ao que, neste ambiente as mulheres teriam sempre tendência a ser relegadas para papéis subordinados. Como solução apontava a criação de novos modelos de organização, mais democráticos, participativos e cooperativos, contrapondo o autoritarismo, a inflexibilidade e a insensibilidade do “modelo masculino".

Ambas as teses têm produzido alguns resultados, embora não sem algumas consequências. As quotas podem ser encaradas como mau princípio, um atestado da inferioridade de um género e uma forma obrigatória de discriminação já que se impõe critérios de selecção em função do género.
Por outro lado, sempre que em cumprimento de uma quota, uma mulher atinja um cargo por privilégio do seu género, o seu mérito e as suas qualidades são secundarizadas quer pela própria quer por terceiros que enaltecem o género como suporte de críticas.

Uma outra consequência pode ser considerada a masculinização das mulheres que alcançam cargos habitualmente destinados a homens, e que, por não deterem autonomia suficiente para alterar a cultura organizacional, se obrigam a “gerir como homens”. Isto, para além da conflituosidade de papéis sociais (sentida pelas próprias e por terceiros) e da submissão do género, cria uma concorrência desleal entre mulheres e homens, já que estes últimos se encontram em vantagem ao exercerem os cargos no seu “meio natural”.

Sabe-se que enquanto o género for uma construção social que determine diferentes papéis sociais, haverá comportamentos e atitudes diferenciadas que pode levar à discriminação na carreira, geralmente com prejuízo para o género feminino.
Os números oficiais da Comissão para a Igualdade no Trabalho - CITE revelam que as queixas continuam a aumentar. Contudo, a visão patriarcal está de facto em desuso e é socialmente repudiada.
Quando aos dados oficiais de emprego (INE), destaca-se a elevada taxa de feminização (71,4%) entre os desempregados com nível de instrução superior. No que respeita a áreas de emprego qualificado que escapam à conotação de “profissões femininas”, a advocacia e magistratura são ramos onde o género feminino parece bastante promissor, revelando mesmo uma superior representação face ao género masculino.

Porém, em termos gerais, este aumento de feminização do mercado de trabalho continua a não traduzir igualdade em proveitos do trabalho, e a discriminação salarial é tanto maior, quanto maior o nível de qualificações.

No que concerne a atitudes discriminatórias, as consequências das acções sexistas, incluindo os assédios, são cada vez menos exclusivas às mulheres, e tal como a discriminação racial, a discriminação com base no género está a perder destaque em função de outros factores como a preferência sexual (heterosexismo) e especialmente a idade (idadismo). Esta última forma de discriminação ameaça mesmo vir a assumir-se como uma principal forma de discriminação, tal a alteração da estrutura etária das populações que a sociedade se prepara para viver.

É de extrema importância continuar a chamar a atenção para este problema real que subsiste na nossa sociedade e assim impedir que a ignorância e o absentismo trave a sua mitigação.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Discriminação laboral das mulheres no séc. XXI (I de II)

(I de II) O novo sexismo e a ordem de género.

As recentes teorias de socialização e do papel do género têm vindo a relegar para segundo plano a importância biológica e cultural do sexo e do género, e apontam que ambos são produtos construídos socialmente, até porque o próprio corpo humano está hoje sujeito às forças sociais sendo passível de moldagem por acção humana, consoante escolhas pessoais e contextos sociais.

Considerando que a discriminação significa a manifestação comportamental do preconceito, o sexismo define-se como atitude preconceituosa e/ou discriminação tendo por base o género da pessoa.
O acto discriminatório não requer a intenção de discriminar, ele ocorre sempre que homens ou mulheres são colocados em desvantagem simplesmente por causa do seu género. Na prática, verifica-se que a discriminação sexista sempre foi mais evidente pelo género feminino, girando em torno de três grandes temas: a natureza; a família e o trabalho.

De facto, no trabalho e em cargos de responsabilidade, o género feminino continua sendo segregado para funções que são vistas como compatíveis com a “natureza feminina” implicando sobretudo o cuidar dos outros como são exemplos as áreas da educação do secretariado, da enfermagem, serviços pessoais ou da assistência social. Outra característica dos postos de trabalho vistos como “mais femininos” (os quais perpetuam os estereótipos), concentra-se na pouca autoridade, influência ou espaço para ascender profissionalmente.

Recentemente, as novas formas de trabalho como o trabalho a tempo parcial e o teletrabalho, instituído com relevo nos países da Europa do Norte, são na maior parte um trabalho feminino, conservando uma diferença salarial entre os sexos bem como a questão da divisão das tarefas domésticas. Isto significa que o actual aumento da efeminização da população activa, geralmente em situação de alguma ou bastante precariedade e em tarefas vistas como “naturalmente” femininas, não expressa uma redução real da discriminação pelo género feminino.

Connel (1987 e 1995) designou os padrões de relação de poder entre masculinidades e feminilidades difundidas pela sociedade como “ordem de género”, na qual se identifica a existência de “acordos sociais colectivos” acerca do comportamento comum das pessoas também em função do género. Segundo Connel, a ordem de género não é estática. Ela resulta de uma construção contínua que acompanha a evolução cultural da sociedade, sendo vulnerável a alterações. Por isso, embora a visão patriarcal não esteja tão evidente como no passado, a ordem de género subsiste e continua a ditar as regras de socialização de género…

sexta-feira, 25 de março de 2011

De volta ao sismo: nós por cá.

Esta foto bem podia ser do Aeroporto de Faro...

Nos países costeiros não são só os escombros, as ruínas e os incêndios que flagelam uma população atingida por um sismo. O mar tem a capacidade imperdoável de magnificar a energia tectónica que a Terra liberta, e com um alcance superior...

As imagens que nos chegaram do Tsunami chocaram-nos a todos. Ao vê-las, apenas a ficção de grandes produções cinematográficas como "2012" ou "O dia depois de amanhã" se nos assemelham.


Por outro lado expande-nos a perspectiva histórica de como terá sido o histórico "Terramoto de Lisboa" de 1755 - que dizimou a capital do país, destruindo igualmente a capital do Algarve - então cidade de Lagos. A propósito de Lagos, a magnitude da destruição e a monopolização dos recursos disponíveis para a reconstrução de Lisboa fez com que a cidade das descobertas não mais pudesse recompor as suas singulares capacidades portuárias, passando o papel de capital do Algarve a ser desempenhado pela cidade de Faro, cujas ilhas-barreira lhe deram abrigo da austeridade dos maremotos.

O território continental português e em especial o Sul são zonas de elevado risco sísmico. As áreas costeiras da grande Lisboa e o litoral Algarvio são as zonas mais sensíveis a tsunamis. Ao contrário da linha de costa que o tsunami japonês varreu na passada Sexta-feira, estas zonas possuem uma densidade populacional dezenas de vezes superior. No Algarve e em Lisboa não são só aldeias e bairros pré-fabricados. São bairros inteiros, torres junto a orlas dunares, habitações apinhadas em ilhas-barreira, em suma, muralhas gigantes de betão e de pessoas que afrontam com a sua existência os riscos de um evento desta natureza.

Pode-se dizer que as construções do Sul de Portugal dos últimos 20/30 anos têm já bastante resistência sísmica. A engenharia permite que as estruturas de betão permaneçam erguidas após a violência dos abalos. Mas quais os requisitos anti-tsunami?
Para resistir ao impacto físico de uma sucessão de vagas gigantes são precisos requisitos construtivos do tipo portuários mas as habitações e empreendimentos turísticos localizados na orla costeira estão construídos ao mais baixo custo obedecendo quanto muito a critérios meramente sísmicos.
Quanto ao urbanismo em si, se estamos a milhas de preparar as nossas urbes para as cheias de Inverno, como podemos considerá-las aptas a enfrentar as ondas gigantes?

Se sofrermos um terramoto deste calibre no maldito famoso banco de Gorringe teremos escassos minutos para fugir das zonas costeiras. Quando as pessoas estarem recompostas do abalo e os meios de protecção civil chegarem aos locais para iniciarem operações, teremos as ondas gigantes a alcançar a costa urbanizada.

Aos políticos, aos técnicos, às empresas e cidadãos que ainda respeitam a grandeza do mar:
Temos que discutir muito mais que o perigo das derrocadas que podem ferir banhistas. Mais que erosão da linha de costa que vai cada vez mais sendo cedida ao mar.
Há bastante mais em jogo no que toca ao ordenamento costeiro. Temos que discutir e promover a protecção das populações humanas perante eventos tão prováveis quanto imprevisíveis, e tão perigosos quanto ignorados...

terça-feira, 15 de março de 2011

O Monstro nipónico

O 11 de Março 2011 ficará na história não pelos atropelos do Primeiro Ministro às instituições democráticas do país mas por um evento cataclísmico ocorrido no país tecnologicamente mais avançado...

A terra voltou a tremer.
Não existem palavras para descrever a devastação oferecida ao Nordeste nipónico nem palavras para louvar o sangue-frio e disciplina com que o povo do imperador (cujo nome - Akihito - não se refere) encarou a catástrofe e enfrenta as consequências.
Trata-se do maior desastre da história do Japão desde a 2GM. As vítimas ascendem às dezenas de
milhar de mortos, os prejuízos materiais e imateriais nunca serão calculáveis...

O perigo nuclear.
200 mil mortos e 3 milhões de desalojados resultaram do sismo de 10 de Janeiro de 2010 em Port-au-Prince no Haiti a 10 de Janeiro 2010. No Japão não se espera tamanhos números, obviamente até pela demografia da região, mas por lá os danos não incidem somente sobre as construções, redes de saneamento energia ou comunicações...

A monarquia constitucional mais moderna do mundo possui 54 Centrais Nucleares que representam 30% da sua produção eléctrica e agora vê algumas delas a ceder à improvidência... No que respeita ao nuclear, com as sucessivas explosões e disseminação de radioactividade é já considerado o pior acidente desde Chernobyl.

Preocupados, os simpatizantes do Nuclear manifestam-se contra comparações, alegando que as centrais que estão a vitimar seres humanos ou em risco de, são antigas cuja tecnologia não comparação possível à segurança e modernidade das "novas" centrais... Henrique Pereira dos Santos no blog Ambio refuta:
"A questão essencial pode ser posta nestes termos:
Quando foi Chernobil, eram reactores obsoletos, num país em transição e más prácticas. Quando foi Three Mile Islands, foi uma sequência de erros humanos que nunca se repeteriam até porque se tinham aprendido as lições. Agora foi num país que funciona bem, leva a segurança a sério e percebe de tecnologia e gestão.
Simplesmente aconteceu o imponderável.
É certo que pode uma barragem rebentar, podem ser vertidos acidentalmente milhares de litros de efluentes químicos letais, mas tudo isso, por grandes que sejam as consequências, são relativamente contidas no tempo e no espaço.
Ora com a radioactividade não é assim. Se no espaço ainda se pode dizer que é relativamente contido o impacto, já no tempo a coisa é bem mais complicada. Repare-se como os grandes acidentes químicos afectaram milhares de pessoas (e milhares de hectares também, por vezes) mas nada que se assemelhe à área de exclusão, por tempo indefinido, que resulta de Chernobil..."

Estamos ainda longe de saber os efeitos nucleares do sismo.
A existência do desastre de Chernobyl foi negada durante dias, os efeitos foram sempre dissimulados para proteger a indústria nuclear e a reputação soviética. Ainda perduram investigações sobre Three Mile Islands que minimizam os danos reais apesar dos milhões pagos em indemnizações a doentes e pais de crianças nascidas com defeitos de nascença...
O peso e a verdade sobre as consequência nucleares do Japão (que ainda não estão estancadas) levarão o seu tempo.
Nem tudo o que parece o será. Mas o perigo é real e o pânico também. Potencias nucleares como a India já ordenaram a revista a todos os procedimentos de segurança e a Alemanha vai desactivar 40% dos seus reactores (17 que são anteriores a 1980).

Esperemos que a situação não se agrave e que o monstro Gojira não saia da ficção.

Mas independentemente dos futuros desenvolvimentos, fica demonstrado uma vez mais que se há país preparado para reagir a calamidades naturais e a monstros nucleares, é o Japão.


A resistência honrada, a história combativa e a cultura intemporal do império nipónico faz com a homenagem a este povo e o tributo às vítimas deste sismo sejam obrigatórias.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Emprego XXI: Um novo significado (II de II)

(II de II): No Futuro - Emprego e/ou servidão?

A residência pessoal, por seu turno, representa hoje mais um complexo gerador de limites e menos um abrigo seguro e estável. Se o “trabalho para a vida” era um marco de estabilidade, a “residência para a vida” era uma certeza.

Contudo, hoje o emprego está a deixar de ser um dado adquirido, e, de uma espécie de rito de iniciação e permanência obrigatória na sociedade adulta, está a tornar-se numa frágil aventura composta por uma série de peripécias com percalços e reviravoltas ao longo da vida, facultativa para alguns.

Apesar disso, a flexibilidade da morada não tem acompanhado a flexibilidade laboral (sobretudo em Portugal onde o mercado de arrendamento não consegue competir com a cultura da casa própria), levando a que as deslocações casa-trabalho se tenham esticado na distância e no tempo dispendido.

Assim é hoje cada vez menos comum a edificação, por parte das fábricas, de “bairros operários” que consolidavam comunidades proletárias. Em vez disso, assiste-se ao aumento da desterritorialização das comunidades trabalhadoras.

A forte competição no mercado laboral aliada às progressivas facilidades de transportes e comunicações submetem as pessoas a trabalhar cada vez mais longe da sua residência abrindo mão de sentimentos afectivos para com o “local de trabalho” e respectiva comunidade local. A desconfiança e quezílias atingem as relações laborais ocupando o espaço consignado a sentimentos de
partilha e de amizade em comunidade, prejudicando inclusive o desempenho da empresa e contribuindo indirectamente para mais precariedade.

A contrapor este ciclo vicioso, a protecção do trabalhador e a regulação do trabalho remunerado trouxe limites ao egoísmo com que uma empresa podia usar e dispor da força de trabalho, convidando à constante concertação entre partes. Aliás, as necessidades de inovação e adaptabilidade impostas ao panorama empresarial reflectem-se dentro das organizações resultando em maior frequência de actualização o que as obriga a um mais intenso relacionamento entre gestores e geridos numa perspectiva de interdependência.
Assim, ultrapassada a primazia do taylorismo e da indústria de massas, a perspectiva pós-fordista veio reposicionar o trabalhador para dentro do espírito da empresa, deixando a mão-de-obra de ser uma matéria-prima ou uma mera ferramenta para passar a ser as mãos, os braços e os próprios sentidos da organização (influenciando directamente as decisões e políticas empresariais dos patrões).


A população activa está numa tendência de envelhecimento (muito devido ao envelhecimento generalizado da população portuguesa), mas se na população de idade mais avançada as mudanças pró-flexibilidade lhes parecem inimigas, para os jovens o “choque” é mais abrangente.

As gerações que recentemente iniciaram a sua vida activa foram instruídas com a experiência dos seus familiares e amigos mais próximos, em especial os pais. Mas no actual mercado laboral já não há lugar para a figura tradicional do “chefe de família” dos tempos em que era comum a remuneração de um dos elementos do casal suprir as despesas do agregado. Hoje tanto os homens como as mulheres, cujas diferenças no mercado de emprego decrescem a passos largos, querem e podem aspirar a carreiras profissionais longas, independentemente do ramo.
Se antes a generalidade das pessoas ocupava a vida na profissão com que iniciara a vida activa a ela ficavam intrinsecamente associadas e com elas eram identificadas pelas comunidades, nas novas gerações isso é excepção.


Estamos longe das taxas de desemprego de 3,9% (2000) e hoje com recordes de desemprego, a competição pelo emprego tornou-se mais concorrida, mais complexa e mais exigente, tanto quanto mais qualificação o posto de trabalho requerer.

Mas apesar da crescente frustração na população recém-licenciada, os estudos universitários continuam a compensar bastante para a empregabilidade. Em 2009 por exemplo, a taxa global de desemprego foi de 9,5% enquanto que para a população com um diploma do ensino superior foi de 6,4%. Também ao nível das remunerações a qualificação compensa: os quadros superiores auferem cerca de quatro vezes mais que os trabalhadores não qualificados.
Em suma, é justo dizer que se para as gerações anteriores o diploma era tido como um privilégio de poucos, em pleno século XXI é um requisito universal...

Licenciados ou não, os jovens estão cada vez mais aflitos. Porém não seremos deolindamente parvos por procurarmos formação. As universidades nunca existiram para garantir empregos mas para formar mentes e espíritos capazes de ser e de produzir o que antes lhes era miragem.
O problema do (des)emprego é económico. Quando a universidade se tornar numa mera casa de formação profissional, haverá outro reduto da busca do conhecimento e respeito pela identidade humana?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Emprego XXI: Um novo significado (I de II)

(I de II): A precarização do valor do trabalho.

Na sociedade moderna o trabalho - remunerado ou não - sempre constituiu uma permanente forma de expressão e de reconhecimento da nossa utilidade na sociedade. Com ele afirmamos a nossa dignidade e nos diferenciamos com os nossos talentos. Através dele atingimos novos graus de emancipação e autonomia e com ele nos integramos nas nossas comunidades. É ainda através do trabalho que nos empossamos de satisfazer grande parte das nossas necessidades e desejos.
Todavia, não param as evoluções quanto ao modo como consideramos o trabalho, o estar-se empregado ou o estar-se ocupado.

Vários factores de ordem económica e social fizeram com que nos últimos decénios a produção industrial tenha sido substituída pela promoção comercial enquanto principal preocupação de uma empresa. Hoje é o marketing que domina a estratégia empresarial num mundo extremamente competitivo em que quem lucra não é quem consegue produzir mais mas sim quem melhor responde aos anseios do cliente. Enquanto que o tradicional taylorismo desmembrou o trabalho em acções individualizadas passíveis de padronização e remuneração colocando todo o ênfase competitivo na eficácia produtiva, este salto económico levou as empresas a dependerem sobretudo da sua capacidade de inovar e de se adaptar a novos tempos e tendências.

Ora se no século XX, o século do taylorismo e do fordismo mecanizado, as valias do trabalhador dependiam da solidez e estabilidade das suas competências e comportamentos, exigidas até pela lógica das linhas de produção, no novo milénio o novo modelo empresarial da inovação e adaptação passou a exigir trabalhadores mais qualificados e capazes de acompanhar as mudanças necessárias. Assim as empresas passaram progressivamente a promover e a valorizar a polivalência e a versatilidade das pessoas e a introduzir gradualmente uma cultura de flexibilidade.

De seguida aborda-se relação entre a precariedade laboral e a evolução do assistencialismo estatal e a sucessiva instalação de direitos laborais.
Tendencialmente o estado social disponibiliza protecções sociais na forma de subsídios monetários, regalias e serviços subsidiados que reduzem a percepção da importância do emprego enquanto garante do progresso e da segurança material do indivíduo. Sem prejuízo dos benefícios da solidariedade e da protecção no desemprego, é facto que o trabalho remunerado tem perdido algum do seu encanto enquanto forma privilegiada de participação na vida social.
A redução de necessidade do emprego faz com que também o desemprego tenha perdido algum do seu drama e de facto auto-estimula-se. Instituições como o subsídio de desemprego faz com que as pessoas estejam dispostas a esperar mais tempo por um emprego que realmente lhes agrade.

Aliás, os últimos progressos do estado social promovem inadvertidamente algum enfraquecimento dos valores socialmente construtivos que emanam do trabalho. O economista Abel Mateus justifica que quanto mais elevados são os custos de despedimento mais os recursos humanos estão detidos em sectores de tecnologia obsoleta ou de baixa produtividade por mais longo tempo. Isto significa que, à parte das implicações económicas, a retenção de trabalhadores por motivações mais administrativas que técnicas, despoleta uma desmoralização generalizada e um descrédito no trabalho em si, composta por uma redução da afeição (dos trabalhadores) e do reconhecimento (por empregadores).

Se antes os patrões despediam a seu belo prazer, também contratavam com grande à vontade.
Já nos dias de hoje, a regulação trouxe um maior receio de firmar compromisso com novos
trabalhadores, e faz sobressair nos patrões uma desconfiança maior sobre os contratos existentes - precariedade laboral.

Do outro lado da barreira os empregados não são insensíveis a isto e as suas ambições/preocupações enquanto empregado deslocam-se do bom desempenho para o bom “agradamento”, a par de um maior receio de ser despedido – mais precariedade laboral.

A precariedade gerada pela flexibilidade não mudou apenas a percepção das pessoas sobre o trabalho remunerado. Também as relações e comportamentos sociais têm sofrido alterações. Com a redução do tempo médio de permanência no mesmo trabalho (mesmo local, mesmo posto, mesma função ou mesma empresa), os laços sociais que a ocupação laboral proporcionava directamente diminuíram de intensidade e de frequência...

continua...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Aliança Democrática XXI: Coligação pré-governo ou pós-governo (II de II)

Aliança Democrática XXI: o terceiro Partido e os resultados:

Francisco Sá Carneiro (líder do PPD/PSD), Diogo Freitas do Amaral (líder do CDS) e Gonçalo Ribeiro Telles (então líder do PPM que em 1993 fundou o Partido da Terra) foram os protagonistas de uma grande coligação pré-eleitoral de que rendeu duas maiorias absolutas (1979 e 1980), com as quais todos os partidos intervenientes reforçaram a sua influência e militância...

Dos partidos actualmente não representados na AR apenas três têm praticado o exercício de poder.
Nas assembleias legislativas das regiões autónomas, têm deputados o Partido Popular Monárquico (PPM), o Partido da Terra (MPT) e o Partido da Nova Democracia (PND).
Quanto aos órgãos autárquicos apenas o MPT (63 autarcas), o PND (9) e o PPM (8) têm eleitos em órgãos autárquicos, não se contabilizando as largas dezenas de mandatos obtidos pelo MPT e PPM em coligações com o PSD e/ou CDS.
Dos restantes partidos não representados, mais nenhum (nem mesmo o histórico MRPP) contabiliza um único eleito que seja.


A coligação praticada nas autárquicas entre PSD/CDS/MPT e PPM, tem funcionado bastante bem com o método de Hondt especialmente nos municípios com maior influência do Bloco de Esquerda (em Faro, por exemplo, a coligação PSD/CDS/MPT/PPM venceu por 130 votos apenas).

A repetir-se a coligação nas legislativas, a manter-se o mesmo sistema eleitoral de distritos, em termos práticos compensará a estes coligarem-se em todos os círculos do continente retirando automaticamente deputados do PS para si (já nos círculos de imigração ou na Madeira a coligação pouco interfere nos mandatos obtidos pelo PSD).


De facto, dando de barato uma repetição dos resultados de 2009, isto aconteceria na maioria dos círculos do continente, grandes e pequenos!.

Em Beja por exemplo o PSD coligado ganharia historicamente um deputado!

Por ser um círculo pequeno é fácil demonstrar:
PS: 34,82% 28.619 votos 2man (o 2man é conseguido aos 14.309.º voto)
PCP/PEV: 28,92% 23.771 votos 1 man
PSD:14,67%12.056 votos 0man (mais de 2 mil votos abaixo da meta para conquistar o 2.º mandato do PS)

Em Lisboa a coligação pós contagem de votos significaria 13+5mandatos contra os actuais 19 do PS. Em caso de coligação pré contagem de votos, os mandatos da AD seriam não 18 mas 19! e venceriam o principal círculo do país retirando um deputado ao PS (ou seja ficaria AD 19 contra PS 18).:
A mesma inversão para o círculo de Santarém. E muito perto de inverter o círculo dos Açores.
Em Braga, a coligação somaria um deputado (retirado ao BE) para além da soma dos mandatos conseguidos em separado. E no Porto bastam meras centenas para o mesmo suceder.

Sem receio de assumir os contributos que adviriam de e para o partido no qual estou envolvido, se o mesmo integrasse uma coligação alargada de futuro para o país, espero sinceramente que em 2011 a honestidade intelectual prevaleça na política portuguesa.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

DIA 23 de JANEIRO: VOTAREI FERNANDO NOBRE, A ÚLTIMA ESPERANÇA PRESIDENCIAL!

(Com as últimas sondagem a demonstrarem que é possível, interrompo este blog para um repost necessário - 22 de Fevereiro 2010)

Com o emblemático Padrão dos Descobrimentos em pano de fundo, apresentou esta Sexta-feira a sua candidatura à Presidência da República Portuguesa, sem apoios partidários.

Quem é o Doutor Fernando de la Vieter Ribeiro Nobre?
Médico cirurgião português, Luanda, nascido a 16 de Dezembro de 1951.
Residiu na RD do Congo, esteve na Bélgica durante quase 20 anos, e regressou a Portugal em 1985 após (por inspiração da sua experiência nos Médicos Sem Fronteiras e de convite do então Ministro da Saúde – Dr. António Maldonado Gonelha) ter fundado a AMI - Assistência Médica Internacional, ONG que ainda preside.
Cidadão do Mundo, visitou mais de 100 países e sempre com um espírito incansável contra a intolerância e a indiferença, por ele considerada como as piores doenças da sociedade humana.

Apesar de insinuações de alguma Esquerda política menos instruída ou com intenção de colagens ao novo candidato, o Doutor Fernando Nobre é partidariamente neutro. Participou na convenção do PSD em 2002, apoiou a candidatura de Mário Soares à presidência da República em 2006, foi mandatário do BE nas últimas eleições Europeias e apoiou a recente reeleição de António Capucho como Presidente da Câmara Municipal de Cascais (PSD/CDS-PP).

Para os algarvios que não sabem, o Doutor Fernando Nobre foi também co-fundador do Hospital Particular do Algarve em 1996, tendo sido o primeiro Director Clínico e o primeiro Presidente da Assembleia Geral.
É um Homem conhecedor do Algarve, em especial do Barlavento, onde ainda à poucos meses visitou Lagos em Setembro passado por cerimónia de abertura do II Master de Verão em Política organizado pelo Instituto da Democracia Portuguesa - Grupo do Algarve (Paulo Rosário Dias, Coordenador), e no mês seguinte para lançamento dos seus dois últimos livros.
Foi agraciado como Cidadão de Mérito pela Câmara Municipal de Portimão em 1993, da qual foi nomeado membro do Conselho Estratégico em 2005, e é Membro Honorário do Lions Clube de Portimão (Lions Clubs International é a maior ONG de clubes de serviço de voluntariado e filantropia e foi considerada em 2007 como a melhor ONG do Mundo).

Se for eleito, esta será a segunda vez nas duas dezenas de Presidentes da República que já tivemos no Regime Republicano, que Portugal terá um Médico como Chefe de Estado (o primeiro foi António José de Almeida, curiosamente o único da “primeira república” que cumpriu o mandato até ao fim).

Pessoalmente, revejo nesta candidatura a universal inspiração mobilizadora de que o país carece. Muito mais que advogados ou politiqueiros, Portugal requer de um verdadeiro humanitário cuja visão, a sabedoria e a preocupação trate o que o interesse partidário descura…

Apoio.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Aliança Democrática XXI: Coligação pré-governo ou pós-governo (I de II)

Apesar da corrente azáfama das presidenciais, continua a correr a troca de palpites sobre a eventualidade de uma nova aliança partidária para as futuras eleições legislativas, antecipadas é claro....

(I de II) Aliança Democrática XXI: A influência do método de hondt.

Exceptuando-se o caso das eleições presidenciais, o método utilizado pelo sistema eleitoral para converter os votos em mandatos baseia-se no chamado método de Hondt.

Este método é bastante prático de usar, contudo, é conhecido pelas suas lacunas no que toca à proporcionalidade representativa dos votos. Neste método. Um só voto pode significar a diferença entre ter ou não atingido a eleição de um mandato. Os restantes votos entre "patamares" de eleição não têm qualquer utilidade eleitoral.
Posto isto, em alguns círculos os grandes partidos perdem acesso a um outro mandato por poucas centenas de votos. Do mesmo modo pode dizer-se que muitos mandatos são conseguidos por escassos votos de diferença.


O eleitorado português já foi informado que na eventualidade quase certa de haver eleições legislativas antecipadas em 2011, resultando em vitória para o PSD, este o CDS formarão governo juntos (re-confirmado pelos líderes de ambos os partidos). Aliás, Passos Coelho afirma que o compromisso de governo deve ser estendido para além do PSD e CDS.

Ora na prática, o método de tradução de votos em mandatos (Hondt) sempre tem sido severo para com os médios partidos. Em muitos círculos eleitorais sobretudo os com menor número de mandatos por atribuir, BE, CDS ou CDU viram-se arredados de ter qualquer eleito por falta de alguns meros votos mais. Nesses casos, todos os votos e todo o esforço não teve qualquer impacto no número global de mandatos atribuídos.

Uma maioria absoluta decide-se por um só mandato. E a natureza do método de Hondt fá-lo ser severo para com divisões de forças e amigo das coligações pré-eleitorais.
Neste sentido, é bem sucedida a posição de Alberto João Jardim que prefere a ideia de PSD e CDS apresentarem listas conjuntas.

Contudo, alguns históricos do PSD como Ângelo Correia ou o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa advogam que a coligação só deverá ocorrer após as eleições, sob o argumento (simplista a meu ver) do PS estar bastante enfraquecido e assim o PSD em teoria, concorrendo sozinho às legislativas poder desta forma alcançar maior eleitorado à sua 'esquerda'.

Quanto a mim, julgo que o eleitorado está cansado de ser iludido por tácticas partidárias, jogadas e negociatas.
Mais importante, o eleitorado não deve de modo algum sentir-se mais iludido se queremos que ele credibilize os resultados das próximas eleições e continue a legitimar o presente regime.
E se o PSD concorrer separado só para poder pescar eleitorado à esquerda com propaganda pró-socialista, perde autenticidade em todo o seu espectro! Veja-se o que sucedeu em 2002.
A ser verdade que Passos Coelho quer de facto mudar o que tem que ser mudado, a começar pela verdade entre partido e pessoas, não pode deixar a sua eleição ficar desde logo manchada por "mais do mesmo" (jogo partidário).

Assim, se na eventualidade de eleições antecipadas em 2011, PSD e CDS quererem formar governo juntos, só lhes fica bem assumirem-se como tal, apresentando-se aos eleitores com listas conjuntas e uma verdadeira proposta de governação para o país...