terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O reformismo contestado de Sócrates

A grande pergunta é: Fuga aos problemas ou maximização dos recursos?

Resposta...Depende da comunicação!

Muito se protesta ao encerramento de esquadras policiais, consulados, urgências, maternidades e escolas. Encerramentos estes sempre sob o móbil condicionante de haver poucos utentes ou poucos efectivos ou mera falta de condições. Populações, associações e autarquias insurgem-se contra esta política de Sócrates acusando-o de economicismo insensível com a supressão destas infraestruturas. Fugir aos problemas, alienando-os, nunca será uma solução aceitável. Se existem más condições num determinado estabelecimento público, há que providenciá-las e não resolver o problema fazendo, como que por artes mágicas, desaparecer o hospedeiro do cancro verificado.


Resumidamente, é este o corpo do protesto de milhares de portugueses que nos últimos tempos têm dado uso ao seu direito á indignação. Mas e se esses portugueses não foram bem informados? Compreensível é, que entra mais depressa na cabeça de uma pessoa e com um peso muito superior uma ameaça do governo em acabar com um determinado recurso, do que o fundamento com que essa decisão é tomada. Esta característica é um inimigo natural do actual Governo e um aliado dos partidos da oposição os quais se vêem apetrechados em contrariarem e repudiarem medidas do executivo mostrando-se ao mesmo tempo solidarizados com as populações.

O que levará então este Executivo a adoptar políticas tão reformistas quanto perigosas ao nível do impacto negativo no eleitorado? Sócrates justifica: resultados!

Como aceitar que os encerramentos darão bons resultados? Não se aceita. Confia-se que darão, espera-se que darão, tal como se espera de qualquer outra medida de qualquer governo que visa melhorar o país e os portugueses. Cada uma das estratégias políticas que prevejam encerramentos juntam-se-lhes regras e promessas políticas que publicitam uma só mensagem: “o país vai estar melhor servido!”.

Então e como compreender que fechando alguns estabelecimentos, o país fica melhor servido?

Durante anos se falou no desperdício de recursos por todo o estado. Há anos que se fala que o problema em Portugal não está na classe trabalhadora mas na classe dirigente. As palavras de ordem são: poupança e eficiência (rendimento). Ora se temos um trabalhador, um recurso, o qual rende muito mais noutra posição que não a que se encontra, manda a regra do bom aproveitamento fazer render ao máximo esse recurso. O problema neste tipo de maximização de recursos é que muitas vezes implica a supressão da posição inicial assim como a respectiva satisfação dos objectivos estabelecidos. Quando assim é, existem duas hipóteses: ou se elimina a necessidade dessa posição existir, ou se utiliza um outro recurso para satisfazer as necessidades dessa posição perdida. Esta é a base da estratégia política por detrás dos falados “encerramentos”.

Apesar de concordar com esta visão dinamizadora, ela não garante por si só que a execução de cada caso seja feita da melhor forma, é no entanto, aí que entram os mais variados jogadores para jogar os factores técnicos, sociais e políticos, articulando-os de modo a equacionar a opção mais adequada ao caso específico sem detrimento do interesse geral.

Que dizer então por exemplo das manifestações contra o encerramento de algumas urgências?

Incontestação das populações

Primeiro há que referir que muitas dessas manifestas revindicações populares referem-se a urgências que não existem. O que se passa a nível das urgências é que fora elaborado e apresentado um mapa propondo toda uma nova rede de urgências. Cada localização é discutível e deve manter-se em constante avaliação. Quando constatado que uma localização deve ser alterada em função de evidentes melhoras a nível do rendimento dessa localização, a decisão deve ser tomada independentemente de promessas baseadas no mapa inicial. A falta de credibilidade e a própria irresponsabilidade não está no voltar atrás num determinado aspecto de uma determinada planificação, mas sim é prosseguir arrogantemente esse plano tendo conhecimento que esse plano deveria ser alterado!

A MEDIATIZAÇÃO.

Para cada manifestação sobre uma urgência que deixa de existir no mencionado mapa, existe outra manifestação, embora invisível, de agrado por parte da população que acolhe a nova localização. Onde estão as reportagens a estas gentes?

Não devemos criticar a mediatização subjacente aos meios de comunicação social nesta matéria. O seu comportamente é perfeitamente previsível tendo em conta a tal tendenciosa característica da mentalidade da população, acima referida.

Para rematar o assunto das urgências, o Sr. Correia de Campos garante que nenhuma população ficará pior servida do que o actualmente. Infelizmente será difícil avaliar o sucesso desta garantia dado que a nova rede é de implementação gradual. Mas vamos esperar para ver e ver se de facto algo melhora no nosso debilitado serviço nacional de urgências, tão mau quanto o serviço hospitalar em geral.

Excluíndo aprofundamentos de cada uma das reformas anunciadas, o problema mais sério que cerca o governo de Sócrates é a informação em si e não o fecho da escola X ou o consulado Y. Esta é a questão verificada!

Idependentemente de não haver condições nos serviços, no cerne das mentalidades portuguesas encontra-se o receio de perderem a pouca segurança e confiança que possuem sobre serviços que os servem, quer se trate de esquadras ou de qualquer outro tipo de serviço do estado. Face a esta problemática, e, se de facto o governo aspira conceber melhores condições aos seus serviços públicos através das respectivas reformas, o público deve ser informado e bem informado de modo a sentir-se confiante com essas mesmas reformas. Estamos a falar de confiança e bem-estar das pessoas e não será por uma estratégia estar bem definida e o documento oficial disponível para consulta como é o caso da segurança interna, que cessará a responsabilidade do governo em instalar confiança nas pessoas! Não! Se as pessoas não se informam acerca do que realmente discutem e protestam, é porque algo está mal. O governo não pode ignorar os ignorantes involuntários ou trabalhar apenas para cultos, interessados e disponíveis. Se os portugueses não procuram a informação, compete ao governo a responsabilidade de ou alterar esse estado de coisas ou pelo menos esforçar-se por garantir que essa informação chega a todos consoante as dúvidas instaladas.

Quero com isto dizer que existe neste momento uma grave e elevada carência de comunicação entre o governo e o povo português e que enquanto for exclusivo aos meios de comunicação social a capacidade de informar as populações sobre as políticas adoptadas, a desconfiança reinará independentemente da qualidade dos mesmos.

Se Sócrates se apresenta como um Primeiro-ministro reformista com um governo muito activo em termos de trabalho executivo, a informação prestada não deve limitar-se aos obrigados pelos procedimentos formais (imprescindíveis à sua exequibilidade) ou aos valores de um governo de manutenção.


Os senhores governantes têm que perceber que os tempos de antena não servem só para eleições ou referendos, as conferências de imprensa não servem apenas para acusações partidárias ou desculpas ministeriais. O povo tem o dever de se informar mas é o governo a quem compete garantir que o povo seja informado sobre as suas políticas.

Certamente que se poupariam a muitos dos protestos se as pessoas realmente soubessem o que está em jogo em cada uma das suas estratégias, ou, mesmo que os protestos aumentassem, pelo menos seriam protestos muito mais dignos, conscientes e muito menos ignorantes ou manipuláveis como muitos que se têm vindo a verificar. Numa sociedade de elevada ileteracia, não se pode nunca esperar que as populações tenham a mesma visão de quem os governa.


Ainda que por parte dos membros do governo haja muito medo de abrir a boca receando cometer enganos, é sempre um engano muito maior aquele que fazem aos portugueses sempre que reservam para si próprios quer o conhecimento cabal das suas políticas, quer a ignorância pessoal sobre determinados aspectos das mesmas.



Depois disto, é de lamentar que um ministro ou seja quem for se queixe de uma desinformação por parte dos meios de comunicação social. Não existe desinformação... Porque o povo não está devidamente informado!

Será preciso que o governo comunique mais e melhor, para que se possa então desculpar menos!...