segunda-feira, 8 de março de 2010

Catastrofismo: Resiliência versus Resistência

O ano começou mal.

Tempestades como a trágica que assolou a nossa Madeira reproduzem-se.
Terríveis sismos estremecem o mundo com uma frequência desconcertante. 12 de Janeiro no Haiti e a 27 de Fevereiro no Chile, sem esquecer os recentes terramotos no Japão, na Argentina, na China, na Califórnia, na Indonésia e agora o Leste da Turquia, tudo pesadas vítimas de terras tremidas com violência.

Longe vão os tempos em que as catástrofes se cingiam a fenómenos naturais. Mesmo a responsabilidade das pragas, doenças e derrotas pesadas de épicas batalhas eram imputadas a deidades, como que punições pela falta de fé ou ofensas a deuses.
Na prática darwinista era um sistema que funcionava. Catástrofe era sinónimo de redenção e de rendição. As comunidades encontravam humildade e submetiam-se ao que lhes era superior. As calamidades traziam tempos de paz, tornavam as pessoas mais seguidoras das práticas cristãs, forçava unidade e lavava ódios pese embora algumas atrocidades inconsequentes feitas em nome de supostos equilíbrios étnico-religosos.
Sem as actuais virtudes da ciência, a catástrofe costumava trazer consigo luto, reflexão e mudanças de comportamentos. Os amigos destacavam-se dos inimigos. As boas práticas viam-se valorizadas e as pessoas evoluíam ao rever a sua forma de coexistir entre si e com a natureza.

Hoje o ser humano deveria ser muito menos ignorante. Os conhecimentos fornecidos pela ciência seriam de dispensar certas caças a bruxas e conflitos mesquinhos.
Hoje a evolução deveria ganhar tempo ao desastre, com a iniciativa e a prevenção mais rápida que a reacção.

Mas não.

A solidariedade constata-se somente reactiva, e em grande parte pretensiosa.
Na calamidade, o mundo continua tão dividido quanto antes.
Sabemos que a globalização é um logro ao serviço sobretudo da Organização Mundial do Comércio. Mas não era necessário tanto egoísmo.
São tantas as alianças internacionais, mundiais até, umas por motivos económicos, outras para assegurar o controlo de conflitos, mas tão poucas ou nenhumas para assegurar uma resposta ao incontrolável, em mitigação de riscos ou danos.

Quanto menos desenvolvimento, maior o rácio de fragilidade ao risco. Isto perfaz dos países mais pobres, as maiores vítimas, e dos mais ricos, os mais negligentes actores numa sociedade que se pretende afirmar como global.

As Nações Unidas criaram em 2000, a ISRD - International Strategy for Disaster Reduction , com os objectivos de consciencializar as comunidades da percepção de risco, expandir o seu conhecimento científico e obter compromisso das autoridades mundiais na redução e prevenção dos riscos.
Nos últimos meses quem viu ou ouviu a acção deste que se esperava ser o organismo de congregação mundial para as catástrofes?
Onde estão as equipas de intervenção rápida em caso de calamidade?
Não menos importante, onde está a prevenção concertada?
Mas a questão de fundo é.. o PORQUÊ de tão pouca evolução mediante tanto conhecimento?

Até quando será preciso esperar para se levar a sério o que é sério, e deixar de brincar aos negócios quando estão vidas em jogo?
O mundo continua tão dividido quanto antes...