quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Copenhaga e o acordo de mercadores

Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2009:
Assistimos com relativa ansiedade ao decorrer da maior cimeira de sempre relacionada com alterações climáticas, fenómeno ainda envolto em polémica mas cuja preocupação é já unânime.

Terminada a conferência de líderes de quase 200 países, ficámos com um acordo registado ("tomado nota") mas não adoptado, ou seja, voluntário. Não foi subscrito por todos os países nem é vinculativo mais se assemelhando a um "orçamento redistributivo" - estrato de vários compromissos assumidos individualmente (na sua esmagadora maioria vagos, imprecisos e não fiscalizáveis).

E se muitos acreditam que Copenhaga foi um relativo sucesso "é melhor isto que nada", outros acreditam que foi uma certidão de óbito.
Se houve um encontro desta envergadura em que todos assumiram à priori como vital e inadiável chegar-se a um acordo arrojado e vinculativo, e obtêm-se como resultado um quase nada, qual a credibilidade que a "cooperação internacional" projecta numa sociedade de 6 biliões?
Qual é o nível de preocupação pelo Planeta que é transmitido com este insucesso?

A palavra "crise internacional" abafa um pouco as críticas, mas se num momento em que se pode agir, o mundo fica-se pela fotografia de uma sessão de discursos e acções que comunicam "façam o que eu digo mas não façam o que eu faço", então quando é iremos agir?

Todos os líderes acordaram nos princípios (clichés) ambientalistas, humanistas e planetários.
Todos acordaram que a responsabilidade dos países industrializados é superior à dos subdesenvolvidos e que deve haver solidariedade nessa óptica.
O que falhou afinal em Copenhaga?
A cimeira não era para evidenciar o óbvio nem para discutir o grau de veracidade ou perigosidade do fenómeno das alterações climáticas.
O objectivo fora a busca de um acórdão proporcional em metas e obrigações entre os estados da ONU. Em cima da mesa estiveram essencialmente simples números económicos como percentagens de redução de emissões e valores de contribuição aos países pobres e em desenvolvimento.

Ora se nunca houve a "solidariedade" da comunidade Internacional para determinar a erradicação da fome e da extrema pobreza no Continente Africano, como se poderia esperar que houvesse "generosidade" em financiar energias limpas e independência do petróleo?
E se num acordo de amenização de alterações climáticas, o pior cancro da economia global que é o petróleo foi totalmente omitido da mesa, esta cimeira é o quê senão um golpe publicitário resultando num redondo fracasso que humilha todo o âmago de cada ser humano?

Parece que o facto da evolução das alterações climáticas não serem tão abruptas (choque), facilita o comodismo e dificulta as cedências.
E mais parece que esta cimeira foi uma reunião de demonstração de virilidade nacional em que os EUA se recusam a financiar a China, a China recusa-se a ser fiscalizada, o Canadá não quer fazer nada e o Brasil acompa os EUA na elaboração do vazio acordo...

E a União Europeia?
Os líderes europeus "choram" que a sua liderança na luta contra as emissões poluentes não tenha como seguidores as grandes potências mundiais, perdendo-se oportunidade de a UE tirar vantagens políticas do vanguardismo que ainda detém.

Mas ao invés de se apontar culpas e de se demitirem, atirando a responsabilidade da inacção ao falhanço das negociações de gigantes cimeiras pomposas que todos anteviram desiludir, fariam melhor figura apostando no exemplo individual de cada nação, promovendo uma nova forma de concorrência internacional pelos investimentos em energias limpas.

Desde quando é que os vizinhos não fazerem bem é desculpa para não o fazermos nós próprios?


*O resultado prático da cimeira cingiu-se a um acordo para a criação de um fundo climático para os países mais pobres, de 30 mil milhões de dólares para gastar até 2012. Destaca-se que a União Europeia e o Japão oferecem cada um o triplo do oferecido pelos EUA!...