sexta-feira, 25 de março de 2011

De volta ao sismo: nós por cá.

Esta foto bem podia ser do Aeroporto de Faro...

Nos países costeiros não são só os escombros, as ruínas e os incêndios que flagelam uma população atingida por um sismo. O mar tem a capacidade imperdoável de magnificar a energia tectónica que a Terra liberta, e com um alcance superior...

As imagens que nos chegaram do Tsunami chocaram-nos a todos. Ao vê-las, apenas a ficção de grandes produções cinematográficas como "2012" ou "O dia depois de amanhã" se nos assemelham.


Por outro lado expande-nos a perspectiva histórica de como terá sido o histórico "Terramoto de Lisboa" de 1755 - que dizimou a capital do país, destruindo igualmente a capital do Algarve - então cidade de Lagos. A propósito de Lagos, a magnitude da destruição e a monopolização dos recursos disponíveis para a reconstrução de Lisboa fez com que a cidade das descobertas não mais pudesse recompor as suas singulares capacidades portuárias, passando o papel de capital do Algarve a ser desempenhado pela cidade de Faro, cujas ilhas-barreira lhe deram abrigo da austeridade dos maremotos.

O território continental português e em especial o Sul são zonas de elevado risco sísmico. As áreas costeiras da grande Lisboa e o litoral Algarvio são as zonas mais sensíveis a tsunamis. Ao contrário da linha de costa que o tsunami japonês varreu na passada Sexta-feira, estas zonas possuem uma densidade populacional dezenas de vezes superior. No Algarve e em Lisboa não são só aldeias e bairros pré-fabricados. São bairros inteiros, torres junto a orlas dunares, habitações apinhadas em ilhas-barreira, em suma, muralhas gigantes de betão e de pessoas que afrontam com a sua existência os riscos de um evento desta natureza.

Pode-se dizer que as construções do Sul de Portugal dos últimos 20/30 anos têm já bastante resistência sísmica. A engenharia permite que as estruturas de betão permaneçam erguidas após a violência dos abalos. Mas quais os requisitos anti-tsunami?
Para resistir ao impacto físico de uma sucessão de vagas gigantes são precisos requisitos construtivos do tipo portuários mas as habitações e empreendimentos turísticos localizados na orla costeira estão construídos ao mais baixo custo obedecendo quanto muito a critérios meramente sísmicos.
Quanto ao urbanismo em si, se estamos a milhas de preparar as nossas urbes para as cheias de Inverno, como podemos considerá-las aptas a enfrentar as ondas gigantes?

Se sofrermos um terramoto deste calibre no maldito famoso banco de Gorringe teremos escassos minutos para fugir das zonas costeiras. Quando as pessoas estarem recompostas do abalo e os meios de protecção civil chegarem aos locais para iniciarem operações, teremos as ondas gigantes a alcançar a costa urbanizada.

Aos políticos, aos técnicos, às empresas e cidadãos que ainda respeitam a grandeza do mar:
Temos que discutir muito mais que o perigo das derrocadas que podem ferir banhistas. Mais que erosão da linha de costa que vai cada vez mais sendo cedida ao mar.
Há bastante mais em jogo no que toca ao ordenamento costeiro. Temos que discutir e promover a protecção das populações humanas perante eventos tão prováveis quanto imprevisíveis, e tão perigosos quanto ignorados...

terça-feira, 15 de março de 2011

O Monstro nipónico

O 11 de Março 2011 ficará na história não pelos atropelos do Primeiro Ministro às instituições democráticas do país mas por um evento cataclísmico ocorrido no país tecnologicamente mais avançado...

A terra voltou a tremer.
Não existem palavras para descrever a devastação oferecida ao Nordeste nipónico nem palavras para louvar o sangue-frio e disciplina com que o povo do imperador (cujo nome - Akihito - não se refere) encarou a catástrofe e enfrenta as consequências.
Trata-se do maior desastre da história do Japão desde a 2GM. As vítimas ascendem às dezenas de
milhar de mortos, os prejuízos materiais e imateriais nunca serão calculáveis...

O perigo nuclear.
200 mil mortos e 3 milhões de desalojados resultaram do sismo de 10 de Janeiro de 2010 em Port-au-Prince no Haiti a 10 de Janeiro 2010. No Japão não se espera tamanhos números, obviamente até pela demografia da região, mas por lá os danos não incidem somente sobre as construções, redes de saneamento energia ou comunicações...

A monarquia constitucional mais moderna do mundo possui 54 Centrais Nucleares que representam 30% da sua produção eléctrica e agora vê algumas delas a ceder à improvidência... No que respeita ao nuclear, com as sucessivas explosões e disseminação de radioactividade é já considerado o pior acidente desde Chernobyl.

Preocupados, os simpatizantes do Nuclear manifestam-se contra comparações, alegando que as centrais que estão a vitimar seres humanos ou em risco de, são antigas cuja tecnologia não comparação possível à segurança e modernidade das "novas" centrais... Henrique Pereira dos Santos no blog Ambio refuta:
"A questão essencial pode ser posta nestes termos:
Quando foi Chernobil, eram reactores obsoletos, num país em transição e más prácticas. Quando foi Three Mile Islands, foi uma sequência de erros humanos que nunca se repeteriam até porque se tinham aprendido as lições. Agora foi num país que funciona bem, leva a segurança a sério e percebe de tecnologia e gestão.
Simplesmente aconteceu o imponderável.
É certo que pode uma barragem rebentar, podem ser vertidos acidentalmente milhares de litros de efluentes químicos letais, mas tudo isso, por grandes que sejam as consequências, são relativamente contidas no tempo e no espaço.
Ora com a radioactividade não é assim. Se no espaço ainda se pode dizer que é relativamente contido o impacto, já no tempo a coisa é bem mais complicada. Repare-se como os grandes acidentes químicos afectaram milhares de pessoas (e milhares de hectares também, por vezes) mas nada que se assemelhe à área de exclusão, por tempo indefinido, que resulta de Chernobil..."

Estamos ainda longe de saber os efeitos nucleares do sismo.
A existência do desastre de Chernobyl foi negada durante dias, os efeitos foram sempre dissimulados para proteger a indústria nuclear e a reputação soviética. Ainda perduram investigações sobre Three Mile Islands que minimizam os danos reais apesar dos milhões pagos em indemnizações a doentes e pais de crianças nascidas com defeitos de nascença...
O peso e a verdade sobre as consequência nucleares do Japão (que ainda não estão estancadas) levarão o seu tempo.
Nem tudo o que parece o será. Mas o perigo é real e o pânico também. Potencias nucleares como a India já ordenaram a revista a todos os procedimentos de segurança e a Alemanha vai desactivar 40% dos seus reactores (17 que são anteriores a 1980).

Esperemos que a situação não se agrave e que o monstro Gojira não saia da ficção.

Mas independentemente dos futuros desenvolvimentos, fica demonstrado uma vez mais que se há país preparado para reagir a calamidades naturais e a monstros nucleares, é o Japão.


A resistência honrada, a história combativa e a cultura intemporal do império nipónico faz com a homenagem a este povo e o tributo às vítimas deste sismo sejam obrigatórias.