segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hiperglobalismo!

Iniciada na era dos descobrimentos com as aproximações de diferentes povos, costumes e produtos, e potenciada com a revolução industrial que expandiu e generalizou a oferta, a globalização económica tem como marco de expansão o período pós Segunda Grande Guerra Mundial.

O receio de novos conflitos globais estimulou vontades de aproximação e integração entre países. Criaram-se comunidades económicas que agilizaram mercados financeiros, liberalizaram actividades comerciais e incentivaram investimentos por parte de estados e das empresas em países externos.

A revolução tecnológica veio fornecer as ferramentas comunicativas que haviam começado a surgir com o desenvolvimento de eficientes meios de transportes. A era da informação transformou o mundo de um conjunto de nações ligadas por umas linhas comunicantes na interdependente comunidade que hoje é referida como “aldeia global”.

Três processos económicos acompanham esta evolução e explicam a submissão da globalização ao poder monetarista:

- Expansão extraordinária de fluxos internacionais de bens, serviços e capitais;

- Concorrência desenfreada nos mercados internacionais;

- Maior integração entre os sistemas económicos nacionais.

A entrada de capitais estrangeiros, a criação e deslocação de meios de produção globalizou o alcance das empresas. A universalização da produção possibilitou por exemplo que uma empresa de determinado país montasse carros num outro país e os vendesse num terceiro, quando os seus componentes foram produzidos em vários outros países diferentes.

Retirando ênfase à origem territorial de um bem, a universalização iniciou uma despersonalização dos produtos, sobretudo os transaccionáveis.

Hoje um produto pode surgir oriundo de múltiplas formas e por parte de múltiplas entidades. As próprias entidades são apenas imagens de um momento estratégico efémero e as pessoas não as conhecem mais. As pessoas perderam contacto com os significados e valores conexos de um produto produzido.


Ora se as pessoas passaram a encarar produto com superficialidade, neste destacam-se as funções mais directas entendidas pelas pessoas como o prazer de obter e o prazer de usufruir – formas de manifestação de poder num contexto social monetarista, originando o fenómeno consumista.


O próprio consumismo é dinâmico e sofre evoluções.
Na nova sociedade da informação, a comunicação social e o crescente acesso à informação dos produtos, mas mais importante, o acesso à informação sobre outras pessoas distantes tem desenvolvido progressivamente e cada vez com mais profundidade a ‘cultura de modas’ e sua particular importância económica e social. Estas criam nos indivíduos necessidades que embora surjam como psicológicas, manifestam repercussões reais no quotidiano social.

As origens dos vícios da sociedade globalizada não são apenas naturalmente antropocêntricas, são também induzidas, estimuladas e promovidas por sistemas mercantilistas. A concorrência de empresas torna-se cada vez mais agressiva e não esqueçamos que toda a sua existência assenta na apetência do consumidor consumir os seus produtos escassos. É pois com a própria expansão da informação, propaganda de escalas e toda uma panóplia de comunicação que o marketing consumista atinge os seus objectivos.

Para fugir ao arrefecimento o mercantilismo monetarista (mais capitalista ou mais socialista) evoluiu nas últimas décadas em todas as nações, icentivando mais os estados a alimentarem a procura interna e a liberalizar a influência externa (“mais lenha para a fogueira”). O mercado banqueiro assume cada vez mais importância na salubridade do sistema financeiro e determina que hoje em dia o bom Estado seja o que mais se endivida, e o bom cidadão seja o que consome, mais.

"No momento em que mal saímos do século XX as sociedades se reorganizam para nos fazerem consumidores do século XXI e, como cidadãos, levar-nos de volta ao século XVIII”.

O alheamento provoca mais alheamento, e os produtos supérfluos que se compram nas prateleiras deixaram de ser apenas embalagens de detergente para passarem a ser também políticas e valores, atitudes e princípios, líderes e carácteres...

Por todo o lado há focos de sentimentos nostálgicos por valores simbólicos de produtos “nossos”. Questionadas as pessoas se preferem produtos da sua terra aos estrangeiros, as pessoas preferem os primeiros, mas o custo pecuniário que as pessoas estão dispostas a ceder pela preferência ‘de origem’ é muito pouco e conclui-se que a determinante suprema volta a ser o objecto do monetarismo, e que o hiperconsumo veio para ficar.


A pressão globalizante é enorme. A infra-estrutura adaptada e dependente do processo é o prato pesado da balança das políticas mundiais. E no mundo, se parte das sociedades mais avançadas questionam a validade dos sistemas, as economias emergentes por seu lado preocupam-se com a forma mais eficaz de atingir o nível sistémico das primeiras, na maioria das vezes provocando disparidades e injustiças sociais ainda maiores nos seus povos.


As vantagens e os problemas da globalização funcionam em rede e em simbiose, daí que não haja anti-vírus nem fórmulas mágicas para a problemática. Há sim tratamentos que equilibram os efeitos nocivos do sistema globalizante, consumista e humanamente redutor.


Substituir o consumo desenfreado de combustíveis fósseis por energias renováveis diminui o esgotamento dos recursos e desagrava os ataques sobre a biodiversidade. Reduzir o desperdício de energia sob todas as formas, assentando na criação racional de bens e na regra dos três Rs (reduzir, reutilizar, reciclar), até um nível conducente com a nossa demografia e capacidade de carga do planeta. Redistribuir a riqueza evitando macrocefalias urbanas e atenuando disparidades sociais, focalizar a cultura, a identidade e a dignidade humanas como soberanos acima de interesses mercantilistas…

Palavras que por serem constantemente repetidas como soluções soam a clichés banais, mas não perdem validade por isso.

As sociedades vivem com as vantagens e desvantagens do sobre-consumo, e se as gerações de hoje estão literalmente viciadas, será preciso educar ensinar as gerações vindouras para que possam elas a seu critério preparar uma transição melhor, e atempada..

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