sábado, 26 de novembro de 2011

O último tratado Europeu

Até à vigência do Tratado de Lisboa a Comunidade representava e representava-se por interesses comuns, todos eles obtidos e admitidos após processos de negociação, pressão e reivindicação entre estados membros, e que depois se consubstanciava em documentos protocolares.
A ambição política dos lí
deres europeus visava uma união política capaz de criar força projetada pelos órgãos comunitários que ante
s do Tratado de Lisboa não era sequer juridicamente possível.

Nos últimos anos de vida da União Europeia, assistiu-se ao aproximar de países e culturas que o estabelecimento do Mercado Único proporcionou. Cimentou relações entre estados vizinhos, criou oportunidade de negócio e aglomerou interesses particular

A chegada da moeda única foi um ansiado passo de leão para alinhar políticas económicas que permitissem o ganho de influência por parte de uma “União Europeia” sobre o dólar americano. A transformação que o Euro implicava pressionou e evidenciou uma divisão entre os estados membros que mais se encontravam dispostos a aprofundar a sua integração europeia e os mais reticentes. A UE continuou a evoluir na sua participação nas vidas dos cidadãos dos diversos estados e os alargamentos a Leste finalmente se sucederam. A União estava maior que nunca, mais embrenhada e participativa na vida política de cada membro, mas também mais dispersa, com problemas novos e maior número de contextos diferentes. Os consensos verificavam-se ainda mais complexos de assegurar – Era necessário aprofundar a contratualização europeia e não bastavam simples adendas, estava chegado o tempo de uma autêntica Constituição Europeia.
es em coletivos.

O Tratado de Lisboa assinado a 13 de Dezembro de 2007 pelos Chefes de Estado e Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros da UE veio para felicidade das elites europeístas resolver uma controvérsia que começara a ameaçar a imagem e a integridade da união. A incompatibilidade constitucional de alguns membros em abraçar uma constituição europeia, a reticência de algumas oposições políticas e civis e o chumbo de referendos convidava a criação de uma alternativa que não dependesse do consenso popular.
Não surgiu a Constituição que os europeístas mais ambiciosos desenharam mas no seu lugar foi assinado um tratado que formaliza os pressupostos dessa mesma constituição, reforçando os poderes e a soberania dos órgãos Comunitários e instituindo juridicamente uma cidadania europeia sujeita.

Quatro anos depois da assinatura deste tratado que permitiu que os novos tratados pudessem ser fabricados com muito mais agilidade e implementados sem resistência, na Europa magica-se novos instrumentos de controlo e gestão.
Infelizmente não houve referendo, e agora não mais os haverão, nem tão pouco ratificações uníssonas. Será no jogo político das elites e dos grandes interesses que dominam o Velho Continente que as grandes decisões institucionais serão tomadas.

Na falta da verdadeira política que aproxime cidadãos europeus de decisores, caberá ao povo pelos instrumentos democráticos (e infelizmente não só), exprimir aclamação ou rejeição...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

'Cultura' e 'Desenvolvimento' (II de II)

(II de II) O contributo antropológico.

Sem arrogâncias estéticas ou éticas, a antropologia é uma ciência integrante que constrói dados sobre tábuas rasas (sem preconceitos ou especulações). Para ela, os dados estatísticos de outras áreas são referências, a matéria tratada está no terreno, no observável e nos registos actuais e arqueológicos.
Tal como a antropologia não ousa nem pretende substituir-se a outras ciências sociais no uso dos seus dados para desenvolver teorias representativas do real social, devem também as ciências sociológicas, económicas, psicológicas ou politológicas conter-se no empreender de buscas holísticas para a génese/essência do Homem enquanto ser humano, ou no mínimo reconhecer que se o estiverem a fazer, estarão assumindo o papel de antropólogos, devendo agir como tal se devidamente formados.

Se desenvolvimento preconizará uma 'evolução' com ideais pré-concebidos, a cultura por seu lado afirma um status quo, cujo seu estudo e avaliação (sobretudo através da etnologia) não pode estar submetido a uma intenção exterior sob pena de perder a sua objectividade.

Dois investigadores procurando paralelos entre culturas e seus graus gerais de desenvolvimento não chegarão às mesmas conclusões. A matéria observável pode ser exactamente a mesma, os métodos e as doutrinas aplicadas as mesmas, mas a ambiguidade existirá sempre pela mão da subjectividade associada aos critérios que determinam o “desenvolvimento”. Existem por exemplo indicadores modernos e úteis como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que ponderam vários dados estatísticos de um país, usado assim como medida comparativa entre graus de desenvolvimento de países, contudo, os estudos que reúnem dados sobre a felicidade relativa desses países mostram-se ineficazes na descoberta de relacionamento directo entre estatísticas de “desenvolvimento” e a satisfação/felicidade dos indivíduos ou grupos que integram essas estatísticas.

Para finalidades várias desde a promoção com fins comerciais, da descoberta de soluções políticas ou do simples enriquecimento do repertório etnológico, o conhecimento sobre a cultura de uma sociedade é cada vez mais um activo económico e uma mais-valia para várias entidades e instituições que ensejam aproveitar esse conhecimento para explorar novas potencialidades.

Descobrir a complexidade da cultura de uma comunidade, de um povo ou de uma região são armas fortes para ganhar competitividade em áreas tão importantes como a económica - através do turismo, ou a do conhecimento - através da educação, informação e qualificação. Além de que, este serviço antropológico é um contributo basilar, senão o mais importante, para a questão mais transversal ao ser humano: “quem somos, para onde vamos”.

Sendo progressivamente procurado por políticos, economistas, sociólogos, psicólogos, vários profissionais de especialidade e demais entidades interessadas, é através do rigor da antropologia que o conhecimento sobre cultura e desenvolvimento é melhor atingível e é precisamente pelas suas qualidades de isenção que esta ciência surge como a mais apta a estudar o papel da cultura tal como ele é no desenvolvimento dos povos. Os seus resultados por sua vez estarão à mercê de ser apreciados por toda a comunidade científica, destacando-se a sociologia e a economia para que estas, através deles, desenvolvam novos conhecimentos.