quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quarta-feira de cinzas, a penitência

Hoje para os católicos dá-se início ao período de 40 dias (excepto Domingos) que antecede a celebração da Ressurreição de Cristo no Domingo de Páscoa, um período da liturgia clerical cada vez mais renegado pelos deístas.
No início do período que a Igreja classifica como de "penitência e meditação", o INE revela as estatísticas do (DES)emprego em Portugal de todo o ano de 2009. Apesar de pequenas gralhas, é um documento que merece ser consultado - aqui.

Os dados são ainda mais preocupantes do que se nos fez supor, tendo o desemprego nacional do último trimestre ultrapassado os dois dígitos.

E se na globalidade o aumento do desemprego não causa surpresa, observemos as assimetrias regionais...
Ao longo da última década a região do Alentejo tem liderado com destaque o ingrato ranking do desemprego nacional.
Pois as novas estatísticas revelam que apesar do Alentejo também sofrer com aumento da taxa de desemprego, esta região foi ultrapassada pela região Norte e pela região do Algarve, que apresentaram taxas de 11,9 e 11,8, respectivamente.

Por outro lado, as regiões autónomas foram as que melhor resistiram ao aumento do desemprego.
Ainda que estruturalmente distintas, para os economias não lhes será difícil comparar e compreender a força da sustentabilidade das economias insulares versus a fragilidade das economias do Norte e do Algarve. Estas duas regiões fundamentais para o Produto Interno também são bastante distintas entre si. Para ambas as regiões se justificará a insolvência das muitas empresas que operam em mercados susceptíveis à conjuntura como a construção, o têxtil e o turismo.
Mas há uma característica que as une, e nem todos os economistas saberão contabilizá-la - A distância a Lisboa e ao poder de decisão.
Ou seja, analisando as quatro regiões mais afastadas do poder nacional de de
cisão, as que têm autonomia regional são as menos afectadas pelo desemprego, enquanto que as que dependem da macrocefalia de Lisboa são as mais afectadas (tirem-se conclusões!!!). Mas por ora deixemos os descentralismos de parte.

Como todas as estatísticas, os dados por si só não são conclusões mas sim meros indicadores e instrumentos de análise, e existem alguns dados que carecem de especial precaução, não podendo negligenciar que hoje há muita população que deixou de ser considerada desempregada quer pela via de formações ou por substituição de estatuto pelo Rendimento Social de Inserção e outros.
O próprio relatório do INE traduz que muita população transitou do estado de desempregado, para inactivo!
Apesar do 4.º trimestre apresentar subida do número de desempregados, o relatório indica que do 3.º para o 4.º trimestre, muitos desempregados sairam de contabilidade! "As saídas do desemprego entre os dois trimestres foram, em termos relativos, mais intensas do que as saídas do e
mprego".
O que para bom entendedor significa que apesar da gravidade dos números do desemprego, estes são até eufemísticos sobre o prejuízo real sofrido pelas famílias e economia portuguesas no último ano...

Temos ainda, no que respeita à população empregada, dados que revelam:

- Por idades: a população entre os 15 e os 24 registam a maior queda, superior à queda da população à procura do primeiro emprego, denotando-se aqui claros sinais da não renovação de postos precários/sazonais.
- Por escolaridade: Uma positiva subida na percentagem com escolaridade de Ensino Secundário e pós-secundário. Mesmo contabilizando as facilitadas qualificações das novas oportunidades não deixa de representar uma real evolução no mercado de trabalho português.
- Por sectores: todos diminuíram o efectivo de empregos, sendo o da Construção o com mais impacto no desemprego, enquanto que o sector Agrícola foi o único cujo efectivo de empregos subiu do 3.º para o 4.º trim
estre, impulsionado pela sazonalidade de algumas colheitas.

Quanto à recuperação, bom, o melhor é todos acendermos uma velinha...

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