segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Presente da energia eólica

Foi com a energia do vento que moemos os nossos cereais, empurrámos as nossas naus e até fizemos funcionar algumas fábricas. Hoje o vento é também uma significativa fonte de electricidade, e merecem ser esclarecidos alguns mitos e dúvidas acerca desta recente tecnologia "sustentável".

A produção eléctrica proporcionada pelos aerogeradores não consegue responder à procura de pico e a sua produção corresponde mais aos períodos em que a energia é menos necessária. Daí que o valor de um Kwh de energia eólica é por norma menos valioso que um Kwh de uma central a carvão.
Esta desvantagem tem sido compensada com a elevada subsidiação da parte dos Estados e é precisamente na rentabilidade que a discussão política existe sobre esta energia limpa.

Em Portugal a produção de energia eólica evoluiu b
astante na ultima década. Entre 2000 e 2004 o número de aerogeradores mais que triplicou, e de 2004 para cá voltou a triplicar e desta vez com geradores de maior produção, tendo a produção sextuplicado.
A tendência recente tem sido essa, a dos grandes aerogeradores. Estes permitem uma produção de
energia superior para um número menor de máquinas trazendo vantagens económicas evidentes como os menores custos de manutenção.

O Impacto.
Do ponto de vista estético, os grandes aerogeradores também ganham vantagem, porque geralmente têm uma velocidade de rotação menor que as turbinas pequenas, e assim resultando em menor impacte. Contudo, e sobretudo no parques junto a zonas costeiras, o impacto das torres e dos avisadores luminosos é relevante, inclusive para as embarcações habituadas a uma paisagem mais natural.
Sobre a popularidade destes, numerosos estudos na Dinamarca, Reino Unido, Alemanha e nos Países Baixos têm revelado que as populações que vivem ao redor de aerogeradores estão geralmente mais a favor deles que os habitantes das cidades. Isto, embora tal como em Portugal, algumas localidades onde os parques se situam e exploram os seus ventos, as populações se mostrem descontentes pela ausência de retornos.
Sobre os inconvenientes, os aerogeradores, como qualquer estrutura alta,
projectam uma sombra nas áreas vizinhas quando o sol está visível. Vivendo perto de um aerogerador, é possível que nos sintamos incomodados com as pás do rotor cortando a luz solar em flashes (nos projectos e licenciamentos é geralmente omisso a questão da projecção da sombra).
O som não é um problema muito grave. A uma distância de um diâmetro de rotor da base de um aerogerador emitindo 100 db(A) geralmente ausculta-se um nível de som de 55-60 db(A), correspondente a uma secadora de roupa, embora a variação sonora consoante as pás passam junto ao solo, seja o mais incomodativo.

As aves.
As aves colidem muitas vezes com linhas aéreas de alta tensão, mastros, postes e paredes de prédios. Também morrem atropeladas por automóveis ou sofrem danos por outras várias causas de origem humana, mas o número de aves mortas por aerogeradores não é tão grave como se pode pensar.
Estudos com radar em Tjaereborg, na parte ocidental da Dinamarca, onde foi instalado um aerogerador de 2MW com um diâmetro de rotor de 60m, mostram que as aves tendem a mudar de rota por volta de 100-200m antes de chegar a turbina e passam sobre ela a uma distância segura. Na Dinamarca há vários exemplos de aves que se aninham em gaiolas montadas nas torres dos aerogeradores.
Algumas aves se acostumam aos aerogeradores muito rapidamente, há outras que levam mais tempo. Assim, a possibilidade de erguer parques eólicos ao lado de santuários de aves depende da espécie em questão.
Os aerogeradores marinhos não têm um efeito significativo nas aves aquáticas. Esta é a conclusão global que se obtêm de um estudo da vida de aves marinhas realizado no parque eólico marinho Dinamarquês de Tuno Knob. Estudo que legitima os parques offshore como melhores amigos da biodiversidade.

Em Portugal, existem já cerca de 1500 aerogeradores. Por ano, em causa directa, morrem entre zero e 6,24 aves por cada aerogerador.
De acordo com dados disponibilizados pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, (SPEA) o Sul do País tem-se revelado mais mortal para as aves que chocam com os aerogeradores. Só no parque eólico de Fonte dos Monteiros, em Vila do Bispo, e que ao contrário do parque de Lagos não tem sistema de radar para parar na presença de aves, estima-se uma mortalidade de 60 a 90 aves por ano.

Defendendo que os parques eólicos devem ser instalados preferencialmente fora de áreas protegidas, Paulo Lucas, da Quercus, alertou par
a o facto de não se conhecer como é feito o controlo das medidas compensatórias. «Gostaríamos que houvesse uma entidade que fizesse o controlo absoluto destas medidas», diz.

Aerogeradores e os morcegos
Apesar das novas tecnologias, são as populações de morcegos que sentem os impactes mais negativos dos parques eólicos. Segundo um estudo de Erin Baerwald, da Universidade do Calgary (Canadá), os morcegos têm motivos para temer as turbinas eólicas, já que o movimento das pás causa abruptas diminuições da pressão atmosférica, fazendo mesmo rebentar os vasos sanguíneos dos pulmões destes mamíferos.
Dos 75 morcegos dissecados no estudo, 69 apresentavam hemorragias internas. «Uma descida na pressão atmosférica ao redor das pás das turbinas é uma ameaça indetectável, e explica o grande número de fatalidades de morcegos», explica a
cientista.

Estudo que não convence António Sá da Costa, administrador da Enersis, uma das principais promotoras de parques eólicos em Portugal, este salienta mesmo que «aparecem morcegos mortos por várias razões». Quanto ao facto de aparecerem mortos junto a parques eólicos, este não se mostra surpreendido já que «vivem junto a essas áreas»."


Também se refere que os aerogeradores podem estar entre as causas de mortalidade das abelhas cuja população tem estado em forte declínio e ameaçando por isso a sustentabilidade agrícola a nível mundial (A célebre frase atribuída a Albert Einstein demonstra-o de forma clara: "Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a Humanidade teria apenas quatro anos").

Com mais ou menos perigos, as eólicas vão entrando cada vez mais nas nossas vidas prometendo energia limpa e potencialmente barata com a subida do preço dos fósseis. Infelizmente, tal como qualquer obra de arte, a implantação de um parque eólico acarreta consequências não estudadas, quer por negligência (falta de avaliações ambientais estratégicas - AIA; Estudos de impacte ambiental fracos ou não respeitados), quer por impossibilidade técnica (por ex.:a mortalidade de aves ou morcegos não é de fácil quantificação já que os corpos são de imediato colhidos pelos predadores).


Nem tudo o que luz é ouro, e nem tudo o que nos é apresentado como sustentável o será. O lobby das eólicas cresce rapidamente e a sua relação com o Estado é muito forte.
Sem dramas e sem absentismo, até porque a tecnologia só pára de evoluir se o Homem assim o quiser, um bom cidadão não é o mesmo que um bom consumidor. Podemos e devemos ser críticos aos factos, mas não nos permitamos que a nossa racionalidade seja distorcida com preconceitos ou clichés...